Acervo de Marcos Rey na sede da Global Editora em São Paulo / SP
Na Bienal do Livro em 1980, eu me encontrei com um escritor em um estande, acabrunhado por ver poucas pessoas procurando seu autógrafo no novo livro que estava lançando. E via uma mesa mais ou menos próximo a sua, com uma fila imensa de jovens aguardando o autógrafo de um outro autor.
O escritor, decepcionado com a falta da fila diante de sua mesa, abarrotada de exemplares de seu novo livro, Malditos paulistas, era o Marcos Rey, já famoso na época com seu Memórias de um gigolô. Contei a ele que a enorme fila que se formava diante de outro autor era basicamente de estudantes que estavam atrás do autógrafo de mais um livro da Série Vaga-lume, de grande sucesso no final dos anos 1970.
Marcos Rey ficou interessado em conhecer os livros dessa série e folheou alguns títulos que se encontravam no estande. Então me perguntou de forma direta:
— Como faço para eu publicar um livro na série Vaga-lume?
Na semana seguinte, conversamos longamente na editora e começamos a fazer um planejamento para que ele encontrasse tantos leitores jovens como os outros autores da série. Como ele tinha um texto adequado para jovens, já que ele era quem adaptava os livros de Monteiro Lobato para a série Sítio do Pica-Pau Amarelo das manhãs da Globo. Do que ele precisava era de conteúdos que agradassem a criançada das escolas.
Pedimos que ele escrevesse algumas sinopses de histórias que ele criava em sua cabeça, coisa de umas 2 a 3 páginas. Para ele e nós da editora termos a certeza de que os jovens iriam gostar da ideia da história, fizemos testes com 3 mil estudantes. Imprimíamos, mesmo em mimeógrafo, 3 mil cópias das sinopses de Marcos Rey. Os alunos davam notas às sinopses e, nas histórias de que gostavam, davam sugestões de personagens e cenas.
Foi desses testes que nasceram O mistério do 5 estrelas, O rapto do garoto de ouro, Sozinha no mundo, e todos os livros que ele criou para a Série Vaga-lume.
Alguns livros do Marcos Rey que foram da Coleção Vaga-lume e publicados pela Global Editora
Em grande parte, os jovens gostam muito dos livros dele porque, de certa forma, são eles que deram as dicas para a melhorar a história inicial que o autor tinha inicialmente. Quase é possível dizer que uma legião de jovens funcionou como uma espécie de coautores dele, pelo menos pelas sugestões de conteúdos interessantes.
Depois da morte de Marcos Rey, sua viúva Palma Donato, muito amiga da família Alves, proprietária da Global Editora, preferiu transferir todos os livros da série para a Global, uma editora que vem impulsionando de maneira mais efetiva a formação de novos leitores no país. Foi assim que a Global passou a publicar todos os livros de Marcos Rey, coerente com seu compromisso de valorização dos autores brasileiros.
Quem ganha com isso são os jovens leitores brasileiros.
Jiro Takahashi
Editor Executivo Do Grupo Editorial Global
Criador da Coleção Vaga-lume