Os autores Ignácio de Loyola Brandão e Ícaro Silva emocionaram o público da 27ª Bienal Internacional do Livro de São Paulo com histórias afetivas sobre bibliotecas.

20 de setembro de 2024

A conversa aconteceu na Arena Papo de Mercado, no domingo, dia 15, e teve como principal objetivo apresentar a necessidade de bibliotecas públicas e escolares para as diversas faixas etárias.

Com mediação da jornalista Maria Fernanda Rodrigues, editora de cultura do jornal O Estado de São Paulo, ocorreu o bate-papo entre o ator e escritor Ícaro Silva e o imortal da Academia Brasileira de Letras Ignácio de Loyola Brandão sobre a importância das bibliotecas para a formação de leitores.

O debate aconteceu no último dia de Bienal, domingo, dia 15 de setembro, às 14h, na Arena Papo de Mercado, um espaço destinado à reflexão sobre temas de interesse dos profissionais da cadeia do livro e para troca de experiências. O principal objetivo do encontro era mostrar ao público que a biblioteca é um lugar de encontro e de formação de leitores ao longo das gerações.

Loyola, como é conhecido pelo grande público, iniciou a conversa com um depoimento pessoal da presença dos livros desde o seu nascimento e primeiros anos de vida no interior do estado de São Paulo, na cidade de Araraquara. O autor contou sobre sua infância simples em uma casa com dois quartos, onde um deles era repleto de livros de seus pais.

Já Ícaro Silva emocionou os presentes ao relatar sua infância humilde em São Bernardo do Campo (SP), e que teve acesso aos livros pelo seu pai, que era segurança de uma biblioteca; apesar de ele nunca ter ido o local, seu pai trazia livros emprestados do trabalho para os filhos, o que fez a paixão de Ícaro pela literatura começar desde cedo: Ele foi alfabetizado aos quatro anos e publicou seu primeiro livro aos oito.

Um fato peculiar mencionado por Ícaro foi sobre o primeiro livro que ele teve para chamar de seu. O ator só teve seu próprio livro, que não fosse emprestado de bibliotecas, pouco antes de publicar o seu primeiro título, aos oito anos, quando ganhou de presente um exemplar do editor João Scortecci. Anos depois, Ícaro contou que esqueceu o exemplar em um ônibus, lutou incansavelmente para recuperá-lo, mas nunca conseguiu.

Quase trinta anos depois, Ícaro Silva reencontrou João Scortecci, que estava na Bienal com o estande de sua editora, o Grupo Editorial Scortecci, e foi chamado à sala de debates para um reencontro inesquecível.

Loyola compartilhou outros fatos sobre bibliotecas que transformaram vidas de locais em que ele criou bibliotecas pelo país. Entre os exemplos, o imortal contou a história de uma faxineira de uma escola, que ficava na sala forrada de livros no horário de almoço da bibliotecária, quando esta ia fazer as unhas.

Ao conhecer um determinado gênero literário, a faxineira transformou a leitura em um hábito e passou a ler no período em que ficava na sala. Algum tempo depois, o autor pôde voltar a essa escola e para sua surpresa a mulher trocou de área na instituição. Era ela era a nova bibliotecária. “A antiga não sei onde foi parar. Devia estar fazendo as unhas”, brincou o autor de Não Verás País Nenhum com os espectadores.

E pouco antes do encerramento, Ignácio contou que, pouco tempo atrás, estava com cerca de 20 mil livros dentro de casa e percebeu que muitos estavam sem uso havia mais de quarenta anos. Com isso, começou a levar esses livros para uma casa de sua propriedade, em uma comunidade no interior de Minas Gerais.

Com o tempo, ele descobriu que naquela cidade não havia bibliotecas e, junto com sua esposa, decidiu fundar uma, começando com os livros de seu acervo. Hoje a biblioteca é aberta ao público e faz a função social de emprestar livros para a comunidade local.

Após as considerações finais de cada um, Maria Fernanda Rodrigues concluiu a mesa ao dizer que as bibliotecas são um lugar democrático de leitura e pesquisa e comentou brevemente sobre as censuras aos livros no país.

Ao fim do debate, Ignácio de Loyola Brandão dirigiu-se ao estande da Global Editora, onde recebeu leitores para autógrafos e para o lançamento de seu novo livro Só Sei Que Nasci, inspirado em seu relacionamento com a neta caçula, Antonia.

Eliaquim Batista

Atua no mercado editorial há sete anos. É analista de marketing do Grupo Editorial Global, com formação em Letras pelo Centro Universitário Sumaré; possui duas pós-graduações, em Comunicação e Gestão de Conteúdo (Universidade Metodista) e em Literatura e Produção de Textos em Língua Portuguesa (Universidade Ítalo Brasileiro). Além disso, é escritor, blogueiro e colunista da Revista Literária Voo Livre.

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