Campos saltava do palco da ficção e intervinha na vida pessoal de Pessoa.
Álvaro de Campos não é apenas um heterônimo de Pessoa como Alberto Caeiro e Ricardo Reis – os três únicos que receberam esse estatuto. Além de ter tido, como os outros, uma vida e um estilo próprios, e, por isso, uma inteira independência face ao seu criador, Campos saltava do palco da ficção em que fora idealizado para o rés-do-chão da realidade e intervinha no dia-a-dia do seu duplo (namoro, entrevistas aos jornais, etc).
Pessoa escreveu que Campos é a personagem de uma peça. O que falta é a peça. E também, textualmente, que o dramaturgo é o máximo do poeta. É conhecida mas não levada a sério a afirmação pessoana de que cada um dos seus heterônimos constitui um drama e, todos juntos, outro drama. Escreveu também Pessoa que tinha previsto a evolução de cada uma dessas personagens, e que pensava publicar esses livros com os seus horóscopos (biografias abreviadas, afinal) e, até, fotografias!
Esta obra, também editada por Teresa Rita Lopes, uma das maiores especialistas na obra do autor português, tenta fazer-lhe a vontade. Aproveitando, inclusive, o título que para ele previu, Vida e Obras de Álvaro de Campos, que nenhum editor usou até hoje. “Confesso que o meu maior prazer seria que esta “Vida e Obra” contentasse Pessoa, onde quer que esteja, nessa sua ambição de contar a vida das suas personagens através dos seus poemas, respeitando o desenrolar dessas vidas e a evolução da sua maneira de dizer e de viver.”, escreve Teresa, no texto da contracapa do livro.