#QuemLeuIndica – Resenha de “Sagarana”, de João Guimarães Rosa – Por Sandro dos Santos Nascimento, do perfil literário Literartecia

26 de junho de 2024

Mestrando em Educação pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB), o jovem Sandro dos Santos Nascimento criou em 2021 o perfil literário no Instagram Literartecia, onde resenha livros de diversos gêneros literários. Parceiro da Global Editora neste ano de 2024, o estudante resenhou recentemente o livro Sagarana, de João Guimarães Rosa.

“Sagarana” é um livro que transporta o leitor para o sertão brasileiro; para a sua compreensão, é necessário mergulhar no universo de Guimarães Rosa, que transcende o tempo e o espaço, além de explorar a complexidade humana.

Leia agora a resenha do estudante, um convite introdutório para uma das mais brilhantes obras do autor mineiro:

Créditos: Arquivo Pessoal

ROSA, G. Sagarana. São Paulo: @globaleditora, 2019.

João Guimarães Rosa imortalizou-se nas letras nacionais como um dos maiores nomes da literatura do século XX. Com grande capacidade inventiva, ressignificou a linguagem – alcançando seu ápice com “Grande Sertão: veredas” (1956). Sua estreia na literatura data de 1946 – ano em que publicou “Sagarana”.

“Sagarana” (1946) trata-se de uma coletânea que reúne 9 contos ambientados no espaço rural, interior de Minas Gerais. No entanto, apesar da regionalidade pulsante, a galeria de personagens extrapola o local, adensando-se em direção ao universal. Cá, neste compilado de essências humanas, não somente o exterior poderá ser (re)visitado como também o interior, o psicológico.

Com linguagem profundamente marcante, as histórias traçam o novo e o arcaico, a correlação homem-natureza, homem-bicho. Tudo se expande neste sertão de Minas que poderia ser qualquer outro sertão do nordeste brasileiro, quiçá do mundo. O que dizer de “O burrinho pedrês”? Conto no qual um animal é o centro da atenção do narrador. Aqui o burrinho não é somente um animal irracional. É outra coisa. É bicho, é. Mas não qualquer bicho. É bicho que sente. Rumina. Maquina. Recusa. Aceita afetos.

E o que dizer de “A hora e vez de Augusto Matraga”? Conto para ler e reler. Mil vezes. Não exagero. Meu Deus, tão criativo, tão forte, humanamente perverso. Cá, bondade e maldade traçam linhas perigosas. É a odisseia do homem sertanejo ou de qualquer homem em qualquer parte do planeta? É o indivíduo consigo mesmo. Nem bom, nem ruim; essencialmente humano. É a representação daquilo que nos molda: a contradição. Todos temos hora e vez, até para a ressignificação.

E há outros tão incríveis quanto: “Duelo” (um espanto. Uma quase eterna perseguição), “São Marcos”, entre outros. Para além disso, as histórias de “Sagarana” não deixaram de fora as questões do século: o patriarcado, a religião, as relações sociais, a violência, a traição, a política, a economia etc. Temas, em maioria, atemporais.

No mais, no quadro histórico da literatura, o livro está dentro do Modernismo, precisamente em seu terceiro momento.

Disponível nas livrarias. Leiam 😍!

Por André Esteves – @literartecia

Texto original publicado em: INSTAGRAM

Foto: Arquivo pessoal

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