Desta terra nada vai sobrar, a não ser o vento que sopra sobre ela é o título do tão aguardado romance de Ignácio de Loyola Brandão. Seu romance anterior havia sido O anônimo célebre, publicado em 2002. O próprio autor, em entrevistas recentes, declarou sua surpresa ao constatar, ao final da concepção do romance, sua ligação natural com seus desconcertantes Zero e Não verás país nenhum. Neste novo livro, Loyola eleva à máxima potência a distopia presentes nesses dois livros fundamentais do escritor que em 2016 recebeu o Prêmio Machado de Assis da Academia Brasileira de Letras, pelo conjunto da obra.
“Fatos do passado remoto, sempre revividos.
Hora do rush. No metrô, o homem ejaculou
no pescoço da jovem. Preso, pagou pequena
multa e foi liberado pelo juiz, que disse: “Ele
não cometeu ato constrangedor, nem colocou o
pênis na vagina da denunciante”.
A narrativa de Desta terra nada vai sobrar, a não ser o vento que sopra sobre ela transcorre num futuro indeterminado, em que, ao nascer, todos recebem tornozeleiras eletrônicas, são seguidos, vigiados, fiscalizados por câmeras instaladas nas casas, ruas, banheiros. Nesta terra estranha, e ao mesmo tempo tão próxima de nós, a peste se tornou epidemia que dissolve os corpos. A autoeutanásia foi legalizada para idosos. Para o governo, quanto mais longevos morrerem, melhor.
Circulam os comboios de mortos das mais variadas doenças. Os ministérios da Educação, Cultura, Direitos humanos e Meio Ambiente foram extintos. As escolas foram abolidas. A política, matéria rara, se tornou líquida. Coexistem 1.080 partidos. E ninguém governa verdadeiramente. Uma nação moderna, mas arcaica. No meio disso tudo, conhecemos o desenrolar da história de amor entre Clara e Felipe, conturbada como o mundo em que vivem.