O homem rouco é talvez um dos livros que melhor sintetizam o modo incomparável de Rubem Braga ver, perceber e narrar o mundo ao seu redor. Em algumas das crônicas presentes neste livro, saltam aos olhos as reflexões do cronista sobre seu ofício. Repontam aqui e ali os desafios diários daqueles que se dedicam a preencher as páginas com palavras, num mundo em que parece tanto faltar capacidade para dialogar.
Dentre as crônicas deste livro, destacam-se aquelas em que se pode apreciar a visão terna do cronista sobre os animais, como “Biribuva”, “Histórias de Zig” e “Do temperamento dos canários”. Também são pontos altos do livro as crônicas mais intimistas do autor, nas quais ele tece reflexões existenciais de seu modo peculiar a partir de um fato do cotidiano, como é o caso dos textos “Lembrança de um braço direito” e “A visita do casal”.
Com seu espírito livre e independente, Rubem naturalmente capta vestígios de vida onde ela se mostra à primeira vista rara, incendeia com seu humor sarcástico cenas e situações que parecem apenas tristes aos mais desatentos, revela com seu jeito surpreendentemente simples a complexidade da existência humana.
“Procura-se um caderninho azul escrito a lápis e tinta e sangue, suor e lágrimas, com setenta por cento de endereços caducos e cancelados e telefones retirados e, portanto, absolutamente necessários e urgentes e irreconstituíveis. Procura-se, e talvez, não se queira achar, um caderninho azul com um passado cinzento e confuso de um homem triste e vulgar… Procura-se, e talvez não se queira achar.”