
João Guimarães Rosa sempre foi um autor com uma visão bem clara sobre o que queria dentro de suas narrativas. “Quando escrevo, não penso em literatura: penso em coisas vivas”, ele disse certa vez. Esse pensamento bate perfeitamente com tudo que estudamos e falamos sobre o autor até agora. Ele gosta, por exemplo, da natureza, de animais e de todas as coisas que cercam seus personagens. Isso não apenas é um elemento forte nos seus livros, mas também algo que move a narrativa em si para frente, uma parte fundamental da trama. Se fosse ao contrário, talvez nada funcionaria tão bem.
Dentro das páginas de No Urubuquaquá, no Pinhém, o autor acha uma resposta à sua necessidade de explorar coisas vivas. No livro, que tem dois contos e uma novela, todos os personagens entram em uma espécie de jornada. Essa jornada é ambientada pela natureza, que aqui ganha características que reforçam sua vivacidade.

Em outras obras, como “Manuelzão e Miguilim” e “Sagarana”, os personagens também saem em suas respectivas jornadas e, às vezes, elas envolvem viagens para outros lugares. Mas isso são apenas pontos na narrativa e tudo acontece de forma mais introspectiva. Ou seja, dentro dos pensamentos e sentimentos dos personagens. Aqui, no entanto, a jornada em si é o ponto de partida. Ela é o começo, o meio e o fim e leva efetivamente os personagens para um lugar diferente do que quando eles começaram. É uma trajetória mais dinâmica, pois muda muito a forma como os personagens veem eles mesmos e as coisas ao seu redor, mas também é mais exploratória e ativa. A jornada é o desenvolvimento.
Apesar de ter algumas das histórias mais famosas de Guimarães (como “O Recado do Morro”, que também foi publicado pela Global em um livro separado), “No Urubuquaquá, no Pinhém” não é a obra ideal para começar a ler o autor. Este é um livro para, principalmente, quando o leitor estiver com certa familiaridade com a forma como ele conduz suas histórias, se preparando assim para enfrentar o seu projeto linguístico tão específico.